sábado, 17 de abril de 2010

Em “Quadras”, o meu “Quadro”

Eu vivia em minha terra
Já pouco mais que menino
Vencendo a planície e a serra
Acertando o meu destino

Assim entrei para a vida
Sabendo que, a duras penas
Entrava numa corrida
A onde corriam centenas

O de que mais precisei
Foi de ânimo e coragem
Pois muitos espinhos encontrei
Nessa penosa viagem

Fui bravo vaqueiro
Criei boi e fui lavrador
Enchi de arroz o celeiro
Mas sempre fui sonhador

Furei o chão, busquei água
Para a minha sede matar
Quanta dor e quanta mágoa
Por não ter conseguido achar

Domei animais bravos
E muitas cobras matei
Tive dias bem sombrios
E prazeres noutros gozei

Estudando quis ser doutor
Jornalista sem paixão
Também quis ser delegado
Mas não conseguir profissão
Hoje o que me resta
É ser poeta e escritor

Mas sempre tive na mente
O que meu pai me ensinou
Que em tudo fosse prudente
Pois ele o foi, e ganhou

Prudência, às vezes, porém
Traduz uma covardia
Porquanto, é certo, ninguém
Pode fugir a porfia

Há lutas de toda a sorte
Com razão ou desmedida
Há luta de todo o porte
Luta que mata e dá vida.

O riso é, pois necessário
Á solução da contenda
Todos têm o seu destino
Que a natureza desvenda

Eu não digo o que não sinto
E de tudo dou as provas
Não exagero, nem minto
Quando escrevo as minhas trovas.

O passarinho se oculta
Com medo do gavião
E às vezes sepulta
Segredos do coração

Se muito amei fui amado
Se muito quis, fui querido
Se pequei, o meu pecado
Foi sempre de amor ungindo

Por isso é que eu canto
Tangendo as cordas da lira
E se, acaso, vem o pranto
A fé os efeitos tira

É que Deu jamais falhou
E o meu Santo poderoso
Consulta-o sempre que dou
Algum passo perigoso

E assim a certa idade eu chego
De espírito levantado
Eis que o meu maior apego
Foi sempre o bem sublimado

Ajudei a muita gente
Que a mim depois esqueceu
Mas, perdôo, sinceramente
Mesmo até quem me ofendeu.

É que em minha consciência
Eu gravei como lição
Não alcançar consistência
Ódio algum no coração.

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